ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 29.05.1990.

 


Aos vinte e nove dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Segunda Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a assinalar o transcurso do Centenário do Colégio Anchieta. Às dezessete horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancadas que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Clóvis Ilgenfritz, representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Profª Iara Silvia Lucas Wortmann, Secretária de Estado da Educação; Dr. Telmo Borba Magadan, Secretário de Estado de Coordenação e Planejamento; Padre Matias Martinho Lenz, Diretor-geral do Colégio Anchieta; Padre Ayrton Álvares Pinheiro Bitencourt, representando a Cúria Provincial; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa; Prof. Herbert Ewaldo Wetzel, representando o Reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos; e Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa. A seguir, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e, após, anunciou o Coral dos Alunos do Colégio Anchieta, interpretando trecho da Ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes. Em ato contínuo, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Giovani Gregol, como proponente da Sessão e em nome da Bancadas do PT, PMDB, PTB, PCB, PSB e PL, dizendo ter sido aluno do Colégio Anchieta, analisou o significado do transcurso dos cem anos dessa Entidade, falando do trabalho por ela sempre realizado em prol da educação e ressaltando sua capacidade de adaptação às mudanças pelas quais passa nossa sociedade. O Ver. Vieira da Cunha, em nome da Bancada do PDT, declarou ter sido eleito, quando estudante, Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Anchieta. Historiou o crescimento verificado na entidade hoje homenageada, desde sua fundação, há cem anos, até os dias atuais. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, traçou paralelo entre a linha educacional seguida pelo Colégio Anchieta com a de outras instituições estudantis, salientando aspectos referentes às formas de avaliação final dos alunos. O Ver. Leão de Medeiros, também proponente da presente Sessão, em nome da Bancada do PDS discorreu sobre a história do Colégio Anchieta, declarando ser ele um dos mais importantes centros de cultura do País. Atentou para o grande número de vultos famosos que já passaram por esse estabelecimento de ensino. Em continuidade, o grupo de danças do Colégio Anchieta interpretou o número “Estampas de França”, e, após o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Padre Matias Martinho Lenz que, em nome do Colégio Anchieta, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. A seguir, o Coral dos alunos do Colégio Anchieta interpretou a música “Canto da Despedida”. Às dezoito horas e cinqüenta minutos, o Senhor Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala de Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): A preocupação constante pela renovação, não só de seu corpo discente mas quando à atualização de métodos modernos de ensino, na incessante busca de preparar nosso jovens para a vida, tem sido, ao longo desses 100 anos de existência, o objetivo maior do Colégio Anchieta, de tão caras tradições para a vida da Cidade.

Dito isso queremos nesta oportunidade, ressaltar o trabalho de seus responsáveis, tendo à frente o Reitor Padre Alberto Atalíbio Schneider e o Diretor-Geral da Escola, Padre Matias Martinho Lenz, que dão especial ênfase às famílias anchietanas na escolha do Anchieta como um segundo lar, passando de pais para filhos o orgulho de pertencer a essa tradicional instituição de ensino.

O Colégio Anchieta para satisfação e orgulho de todos os porto-alegrenses, conta com um expressivo grupo de professores, técnicos e funcionários que junto aos padres jesuítas, aperfeiçoam-se em sua função de educadores cristãos, orientadores e colaboradores de milhares de alunos, cujo perfil reside na formação de homens abertos para o seu tempo e para o futuro, na busca incansável do mais e do melhor.

Anunciamos o Coral do Colégio Anchieta, que interpretará trecho da ópera “O Guarani”.

 

(O coral se apresenta.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, concedemos a palavra ao Ver. Giovani Gregol, que falará pelas Bancadas do PT, PMDB, PTB, PCB, PSB e PL.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, é com grande satisfação e profundo sentimento de responsabilidade que venho aqui, como proponente desta Sessão Solene e representante da minha Bancada.

O Colégio Anchieta completa o seu centenário. São 100 anos de trabalho e esforço contínuos pela educação, pela formação de seres humanos íntegros e integrais.

Desde o dia 13 janeiro de 1890, quando foi aberto na rua Duque de Caxias, o pequeno Colégio dos Padres - com apenas 40 alunos - muita coisa aconteceu, o mundo mudou e pelas salas do Anchieta, do velho e do novo, muitas gente passou. Tanto professores como funcionários e administradores, fiéis à missão de servir e viver, como milhares de alunos, atentos à necessidade premente de aprender e viver, poderíamos mesmo dizer: milhares de crianças e jovens com a premência de aprender a viver, que como eu, pelo Anchieta passaram, envoltos e atentos ao mistério do mundo e igualmente ansiosos para nele saber orientar-se e encontrar um caminho.

Observando a história do Colégio Anchieta e a obra civilizadora da Companhia de Jesus, que através dele se expressam, dois fatos ressaltam aos nossos olhos: 1º) A permanência da Instituição, a solidez de seus objetivos, a constância na sua concretização. 2º) A mudança, capacidade de percepção e adaptação às mudanças, aos apelos do mundo moderno.

Ambas, tanto a mudança quanto à permanência, estão a serviço dos princípios tão claramente expressos pelo inesquecível Padre Pedro Arrupe, até 1981 superior da ordem: “formar homens abertos para o seu tempo e para o futuro”.

O que impressiona no caso do Anchieta é a forma como, através do tempo, esses dois pólos aparentemente antagônicos, a permanência e a mudança, se relacionam e se combinam.

É obvio que a relação entre a permanência e a mudança implica em tensão, mas é claro também que a sua dialética pode conduzir a uma síntese mais rica e complexa. A tese que sustento é que o Anchieta tem buscado bravamente tal síntese e em grande parte a tem obtido.

Faço tal afirmação tranqüilamente porque sou uma testemunha e, de certa forma, um produto desta busca, deste intento. Vivi, vivemos eu e mais colegas, dentro do Anchieta uma época riquíssima e realmente desafiadora.

Quando lá cheguei, vindo do Colégio Roque Gonzáles, ainda a maioria das turmas do ginásio, como a minha, eram compostas exclusivamente de meninos. Curiosos e expectantes esperávamos o momento em que as meninas, tímidas, viessem a partilhar da mesma sala.

Fazíamos fila para entrar na aula e rezávamos no início do primeiro período, mas juntamente com a disciplina e aparente rigidez, o Colégio proporcionou um ambiente intelectual variado, democrático e verdadeiramente motivador.

Nas aulas de religião, obrigatórias, estudamos muitas vezes as Grandes Religiões.

Nas aulas de filosofia, que não havia nos outros colégios, aprendemos e discutíamos sobre as grandes correntes do pensamento da nossa civilização.

Com os professores de química, física e matemática descobrimos os princípios da ciência, que aplicávamos depois nas aulas práticas de laboratório, incluindo a dos célebres Balthar e Toilet.

 No Anchieta descobri e confirmei minhas duas paixões intelectuais: a ecologia e a história. Devo por isso, agradecer aos meus mestres de biologia, de historia e de geografia, e a todos os mestres e orientadores.

Participamos, também, de uma vida cultural e esportiva muito ativa. Criamos um Cineclube que infelizmente não vingou, e na redação do jornal NA, feita pelos alunos sob a coordenação do prof° Amaral, tivemos uma verdadeira escola de política.

E as pessoas: elas são sempre o principal, o início e o fim dos esforços do educador; no Anchieta havia pessoas de todos os tipos, origens, posturas e pensamentos, tipos humanos riquíssimos, seres humanos inesquecíveis. O calor e o conhecimento provenientes de uma convivência fraterna e rica é, para mim, grande marca, a grande lembrança de uma comunidade em busca do homem à altura da sua fé, de seus ideais e das suas necessidades históricas.

Não é à toa que do Anchieta saíram poetas, escritores, artistas, cineastas, políticos, ecologistas, pessoas de todas as profissões e áreas de atuação, que lá viveram uma fase decisiva da sua vida. Todos nós podemos, cada qual à sua maneira, parafrasear São Paulo, na Primeira Epístola aos coríntios: “Quando eu era menino, falava como menino, julgava como menino, discorria como menino. Mas, depois que eu cheguei a ser homem feito, deixei as coisas que eram de menino. Nós agora, vemos a Deus como por um espelho, mas então veremos claramente...”

Assim ingressamos no Anchieta muitos menino e meninas, com uma determinada visão de mundo e hoje mulheres e homens feitos, temos também devido àquela vivência, uma visão, embora às vezes mais dura, muito mais completa e real.

Mas meu pronunciamento não quer ser uma manifestação de nostalgia, embora exista a saudade do que foi, e daqueles que se foram.

Fiel ao princípio de “homens abertos ao presente e ao futuro” desejo aqui lembrar, sem esquecer os demais, duas grandes pessoas que foram muito importantes na minha formação pessoal e certamente na de muitos outros: quero homenagear, em memória, o Padre Maneca e o Padre Paulão.

Sabemos que o Colégio Anchieta continua, e continuará, a prestar excelentes serviços ao Brasil, ao Rio Grande do Sul, e a Porto Alegre; que saberá manter sempre - alunos, professores, funcionários, diretores, juntos - a excelência de sua formação científica e intelectual, expressa numa educação aberta, moderna, libertária, buscando não só entender como mudar o mundo, segundo as palavras de Cristo no espírito do legítimo Ecumenismo.

Permitam-me citar o grande poeta T. S. Elliot, que fala na sua magistral obra sobre o tempo:

“... O tempo presente e o tempo passado/ estão ambos talvez presentes no tempo futuro/ E o tempo futuro contido no tempo passado/ se todo o tempo é eternamente presente/ todo tempo é irredimível.../ somente através do tempo é o tempo conquistado.”

Por isso, é necessário dizer: Viva os 100 anos do Colégio Anchieta! Que ele possa viver muito mais, sempre fiel aos seus princípios. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Viera da Cunha, que falará em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, autoridades, senhores e senhoras. Em nome do PDT - Partido Democrático Trabalhista, venho à tribuna expressar nossos cumprimentos à comunidade anchietana pelo transcurso do centenário da fundação do Colégio Anchieta.

Pelo Anchieta também tive a felicidade de passar. Entre 1972 e 1977, cursei a 2ª, 3ª e 4ª séries ginasiais e os três anos científico. Em 1975, tive a honra de ter sido eleito pelos meus colegas anchietanos, presidente do Grêmio Estudantil Anchieta, o nosso GEA. Tinha, então, 15 anos. Hoje, com 30 anos de idade, tenho consciência da importância que teve o Colégio Anchieta na minha formação. Em colegas de aula, o Anchieta transforma seus alunos em amigos. É a grande família anchietana, da qual todos nos orgulhamos de pertencer. Foi no Anchieta que tive meus olhos abertos para a realidade da injustiça social em que vivemos. Recém chegado a Porto Alegre, visitei numa atividade didático-pedagógica, junto com colegas anchietanos, uma vila próxima ao Colégio. Recordo-me, como se fosse hoje, das cenas que presenciei, representativas da situação de abandono e da absoluta miséria em que vivia aquela comunidade. A partir dessa visita - tinha, então, 12 anos -, passei a questionar o modelo de sociedade em que vivemos. Iniciava-se ali a formação de uma consciência indignada com os profundos desníveis sociais, característicos desta sociedade capitalista excludente, opressora e desumana a que estamos submetidos.

Hoje eu sei que os rumos que tomei na minha vida têm relação direta com a educação que recebi. Em casa, em primeiro lugar, mas também no Colégio. Por isso, tenho pautado minha atividade pública pela defesa da educação. Por um ensino público e gratuito para todos. Por um magistério valorizado. Pelos CIEPs - Centros Integrados de Educação Pública, onde a criança pobre recebe do Estado a mais ampla assistência. Lá, em turno integral, ela estuda, se alimenta, tem atendimento médico, odontológico e lazer.

Se me perguntasse onde eu vou querer que meus filhos estudem, eu responderia sem hesitar: no Anchieta. Porque quero o melhor para eles. Mas foi também no Anchieta que aprendi a desejar para os filhos dos outros o que quero para os meus. Por isso, sonho - e mais do que sonhar, luto - por uma sociedade em que a escola pública e gratuita tenha a eficiência de um Anchieta. Em que todas as crianças tenham igualdade de oportunidades.

Ao Colégio Anchieta, nosso votos de que continue sua exitosa e centenária trajetória. Eram 40 alunos em 1890. Hoje são 3.300. Três mil e trezentos alunos sendo educados para a liberdade. Liberdade que haveremos de conquistar através da construção de uma nova sociedade, baseada nos sólidos e indestrutíveis alicerces da fraternidade e da justiça social. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Artur Zanella, que falará em nome de sua Bancada o PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, componentes da Mesa. Nós ouvimos já a palavra de ex-anchietanos. Eu, conversando com o Ver. Leão de Medeiros, dizia que a vantagem, talvez, de falar de improviso, é que se pode mudar o enfoque do que se pretende dizer. Ontem, nesta Casa, nós homenageamos o Centro Uruguaianense, onde, naquela distante cidade de Uruguaiana eu entrei no Ginásio do Colégio Sant’Ana, dos Irmãos Maristas. Vim para Porto Alegre, para o Julinho e, aqui, também naquela idade de 15, 16 anos, nós tínhamos opiniões definitivas sobre tudo. O Julinho era o colégio da liberdade, dos intelectuais políticos; o Rosário era dos Maristas, rígido; o farroupilha, dos alemães; o Rui Barbosa, nós não sabíamos muito bem o que era, porque os seus diretores eram judeus e os alunos não eram; o Anchieta era, naquela concepção, o colégio dos filósofos não muito práticos e de alguns naturalistas que nós chamaríamos hoje de ecólogos. E aquela impressão difusa que eu tinha naquela época, eu identifiquei na semana passada ao ver, num programa de televisão, um fato que ocorreu numa vila de Porto Alegre, fenômeno típico de paranormalidade. Uma pessoa da roda disse: “Vai aparecer aí um professor do Anchieta ou outro Jesuíta.” E não deu outra. Aquilo efetivamente me marcou na minha mocidade, ao chegar em Porto Alegre, aquela disputa que havia entre os colégios na época em que cursei o Julinho e que não faz tanto tempo assim. Depois, li muito sobre os jesuítas, uma hora a favor, uma hora contra. A história nos ensina que na Guerra do Paraguai haviam muitos jesuítas no Paraguai e aquilo até tornava uma aula um pouco preconceituosa. Em compensação quem conhece hoje as ruínas dos Sete Povos das Missões, não só as ruínas em solo brasileiro, mas na Argentina - San Inácio - e no Paraguai - Encarnacion - se emociona, como eu me emocionei por algo tão antigo. Uma civilização tão cristã que foi implantada lá pelos jesuítas. E lembro-me do Marquês de Pombal, que os expulsou de Portugal, procurando, quem sabe, provavelmente, um bode expiatório para os problemas daquele país.

Então, senhores professores, Sr. Presidente, trazendo isto para cá, na Lei Orgânica nós tivemos diversas discussões, problemas, e numa delas eu sempre citava o Colégio Anchieta quando, por uma Emenda do Ver. Ervino Besson, esta Casa decidiu que as reprovações nas primeiras e segundas séries do primeiro grau só ocorreriam ouvido o corpo docente, o corpo discente e que não somente uma professora reprovaria o aluno. Eu citei como exemplo, ao votar a favor dessa Emenda, que eu tinha essa experiência muito dolorosa do Colégio Anchieta onde efetivamente uma reprovação só ocorre com uma análise abrangente sobre o aluno, o que a torna justa e que eu queria, também para os colégios públicos, principalmente das vilas, aquilo que o Anchieta proporcionava. Quando pelo meu voto, também, se evitou que as verbas públicas de Porto Alegre fossem direcionadas para as escolas públicas municipais, eu dizia que o contribuinte é um só e deve ter a prerrogativa de escolher que tipo de ensino quer para seus filhos. E quem falava, naquela oportunidade, era alguém que tinha tirado o ginásio em colégio pago, colégio marista, o científico, num colégio gratuito, o Júlio de Castilhos, e que tinha tirado faculdade, - apesar de poder pagá-la -, também de forma gratuita, na Universidade Federal. Eu dizia e muitos diziam que nós temos que reforçar a escola pública e gratuita para que todos possam ter o mesmo nível de ensino dos colégios particulares, mas que nós não poderíamos fechar a porta, também o apoio, aos colégios particulares.

Encerro, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, dizendo por que estou aqui. Primeiro, para dar este depoimento e segundo, porque em determinado momento eu tive que tomar a decisão que para muitos parece fácil, mas que não é. Foi quando eu tive que decidir para os meus três filhos que saíam naquele momento do Instituto de Educação de Porto Alegre do Rio Grande do Sul, uma escola que é o orgulho de todos nós, uma outra escola, mas para onde? E ali, naquela discussão que fiz com meus amigos, e ouvi de tudo, pró, contra, vai para o colégio tal que é rigoroso, vai para esse que é mais rígido, vai para aquele porque é assim... E naquele momento, eu que nunca tivera nenhum contato com o Anchieta, a não ser por intermédio do Jorge Englert, que não tomava um decisão - ele, Secretário de Estado - sem consultar o Paulão, sem eu nunca ter entrado no Colégio Anchieta, nem minha esposa, discutindo o assunto na nossa família, com nossos três filhos, nós decidimos que para eles era melhor um colégio que desse as condições que o Anchieta dá. Um dos meu filhos hoje está na universidade e os outros dois, a Luciane e a Juliana, são alunas do Colégio Anchieta. Eu dou agora o meu testemunho de que aquela decisão familiar - hoje tenho certeza - foi a mais sensata e a mais feliz possível. Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Leão de Medeiros, que fala pela Bancada do PDS.

 

O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, senhores e senhoras. Três padres jesuítas e quarenta alunos deram início em 13 janeiro de 1980 à história do Colégio Anchieta, cujo centenário se comemora este ano. Um século de história, cem anos de trabalho constante e dedicado à causa da educação, cem turmas de jovens formandos cuja presença na sociedade porto-alegrense, gaúcha e brasileira jamais passou despercebida. Cem anos intimamente ligados à história do Rio Grande republicano, tal o número de vultos destacados que passaram por suas salas de aula.

Na sua existência exerceu, também, um importante papel na democratização de oportunidades de educação, através do curso noturno gratuito que manteve por vários anos aos alunos carentes, onde lecionavam com a mesma dedicação, os mesmo professores que se destacavam nos cursos diurnos.

Cem anos depois, são 3.300 alunos e 200 educadores que mantém em evidência um dos mais importantes centros de cultura do Brasil.     Ao longo de quase cinco séculos a Sociedade de Jesus não só esteve presente aos fatos históricos em todo o mundo, como fez ela mesma a história.

A pequena ordem de padres-soldados fundada por Inácio de Loyola no século XVI transformou-se em poucas décadas em uma legião de missionários que modificou definitivamente os métodos de evangelização e de apostolado. Derramou-se pela Europa o exército de padres-cavaleiros. Em frágeis barcos de pau, homens de têmpera de aço atingiram o Oriente longínquo, onde brilhou a fé do navarro Francisco Xavier, cujo corpo incorrupto jaz há quatro séculos em Goa. As caravelas trouxeram para a América os rijos jesuítas que foram precursores da civilização do novo mundo português e espanhol. Almas rijas, às vezes em corpo frágil, como a de José de Anchieta, patrono do Colégio. Almas decididas, como a de Manoel da Nóbrega, ímpar na defesa do selvagem. Almas persistentes como a de Ruiz de Montoya, o árdego desbravador do Vice-Reino do Peru, e organizador das missões que se estenderam até Guaíra e o Rio Uruguai. Pregadores como Roque Gonzales e o boliviano Cristóvão de Mendoza, que não hesitaram em oferecer o próprio coração à sua fé.

Depois da epopéia missioneira, os padres jesuítas voltaram ao Rio Grande do Sul em 15 de outubro de 1842. Incansáveis trabalhadores, em breve já acompanhavam e assistiam a população do interior do Estado, descendente dos colonos açorianos e alemães.

Fundam em São Leopoldo um educandário, o antigo Ginásio Nossa Senhora da Conceição, depois seminário, hoje a plena realidade que é a Universidade do Vale do Rio dos Sinos. O Colégio Anchieta seria mais um rebento deste núcleo de cultura.

Fundou-se o Colégio Anchieta no momento em que chegava ao poder o positivismo, com a república. A presença dos combatentes jesuítas em Porto Alegre não foi apenas uma coincidência. Antes de tudo, respondeu a uma exigência do catolicismo então ameaçado. Como há quatro séculos e meio atrás, voltavam a evangelizar.

E continuam a fazê-lo, porque evangelizar é da própria essência da Ordem. Aqueles que tiveram a oportunidade e a felicidade de passar pelos bancos do Anchieta sabem disso e, desta ou daquela forma, nesta ou naquela função, continuam como leigos, a passar a mensagem e a manter a tradição anchietana de luta.

Luta que é permanente, pois no Anchieta nada se faz sem trabalho duro. O velho casarão da Duque de Caxias era bem um símbolo. Para atingir suas arcadas superiores era preciso subir intermináveis escadarias. Seus Terraços eram um aviso mudo, mas explícito. Para atingir a última esplanada, a sombra do “velho plátano”, os novatos, os “pregos”, tinham de usar o topete e aprimorar o espírito. E todos chegavam e chegam lá , porque o Anchieta é acima de tudo, um desafio. É mínimo o número de defecções e de reprovações, apesar da conhecida exigência dos jesuítas e dos professores leigos do Anchieta. Mas ninguém fica no caminho: os padres e os educadores leigos não deixam o trabalho pela metade, e tratam de recuperar algumas ovelhas renitentes, que muitas vezes dão graças a eles quando atingem posições de destaque na comunidade.

Da mesma têmpera dos pioneiros jesuítas foram os Padres Francisco Trappe, Júlio Brinkmann e Irmão Guilherme Boehler, os primeiros professores do Colégio hoje centenário. Do mesmo aço foram feitos os jesuítas que passaram pelo Colégio Anchieta desde 1890, tantos que seria impossível enumerá-los todos. Mas cada um de nós, antigos alunos anchietanos, e toda sociedade porto-alegrense os conhece e os traz no coração. Todavia, lembro sacerdotes extraordinários: entre eles os Padres Werner Von Und Zu Mühlen, Lorentz Schneider, Wilhelm Gregory e um alsaciano incomparável no brilho e na inteligência, Albert Fugger. Outros se lhes seguiram: Balduino Rambo, o botânico e naturalista que moldou toda uma geração de anchietanos. Menciono a legenda que é o Padre Jorge, e a figura respeitada de Mathias Schmitz, que tanto fez pelo ensino da química; Urbano Thiesen, cujos ensinamentos da história ensejavam apaixonadas as opiniões sobre os méritos discutíveis da Revolução Francesa. Artur Boll, o severo Prefeito e depois Diretor nos anos tensos da Segunda Guerra Mundial e do fim do Estado Novo; Urbano Rauch, que deixou o convívio de seus alunos para servir como capelão, voluntário, na Força Expedicionária na Itália. E quem esquece o piedoso Inácio Valle, o boníssimo Luiz Gonzaga Jaeger, o corajoso Pio Buck? E dos ex-alunos José Carlos Nunes e Armando Marocco? E do cientista Francisco Toilier? Quem não recorda os ensinamentos de Emilio Hartmann e de Lino Brod? E que seria da construção do Novo Anchieta sem o despreendimento de Henrique Pauquet?

Há muitos outros, como Milton Valente, o latinista emérito que tanto estimulou seus alunos à leitura e ao cultivo da língua portuguesa, bem como a plêiade de professores leigos que tanto como os sacerdotes, moldaram gerações de estudantes: Luiz Leseigneur de Faria, cuja vocação de professor o fez optar pelo magistério e renunciar às suas funções na Prefeitura Municipal; José Carlos de Morais Haertel, o introdutor da química e da física para tantos futuros médicos e engenheiros; Natal Cruvinel de Paiva, o médico que encantava seus alunos com a viva e dramática descrição que fazia do mundo microbiano; Mesquita Cavalho, mestre emérito de português, impiedoso na crítica, mas no fundo compassivo e tolerante; Lino Braun, em cuja conduta sóbria e comedida se escondia um futuro parlamentar atuante e diligente; Werner Schütz, o engenheiro que iniciou a meninada nos segredos da régua de cálculo e consolidou conhecimentos de matemática de que nem futuros advogados lograram se libertar. Godofredo Fay de Macedo, o advogado impecável na conduta e na palavra, formal no trato com os alunos e que surpreendentemente era exímio professor... de matemática! Lembro com saudade e com carinho de tantos outros. O elegante Humberto Gessinger, o artista Bruno Kiefer, os mestres políticos José Alexandre Záchia; Nadyr Rosseti e Airton Vargas. E os incansáveis Mário Bitencourt e Vicente Berlitz? E o amigo de todos, Augusto Thiesen? Todos e muitos mais, sempre forjando caracteres.

Alguns conheci, outros recordo pela palavra de terceiros, nas evocações carinhosas que ouço, inclusive no circulo familiar, sobre o que foi o Anchieta de 50 anos atrás.

Naqueles anos ali estava, como aluno, uma figura que desejo destacar: o atual Padre Paulo Borges da Fonseca, Capelão do Anchieta, já firmemente vocacionado para o sacerdócio, hoje cercado do afeto e admiração de quantos o conhecem e tiveram o privilégio de com ele privar. Talvez seja justo dizer que ele é, hoje, sucessor legítimo da tradição de cultura e qualidade que a “Província Jesuítica” trouxe para estas plagas, um símbolo do verdadeiro anchietano e da magnífica obra educacional que os Jesuítas levaram a cabo no Rio Grande do Sul. Homenageando-o, rendo tributo a todos os que precederam e aos que hão de sucedê-lo na verdadeira missão de servir de exemplo e de apontar os caminhos da verdade e da autêntica cultura.

Senhoras e senhores, o mundo moderno enfrenta neste final de século novas e constantes mazelas, mas não é muito diferente do mundo daquele outro fin de siècle. Natura non facit saltus, diziam os antigos romanos. Depois ficou-se sabendo que algumas mutações e muitos melhoramentos podem ser atingidos, desde que a alma não seja pequena. Se não tivéssemos a convicção de que a natureza humana é passível de aperfeiçoamento, tudo seria inútil.

Senhoras e senhores, no mundo moderno, o Colégio Anchieta luta com armas modernas da pedagogia e com moderna interpretação da realidade social. Porque nossa realidade social é, tantas vezes, contraditória, nem sempre as inovações são aceitas com facilidade. Até mesmo porque as inovações devem também sofrer a dura prova da verdade, delas a sociedade exige que demonstrem eficácia. Certos conceitos, que se considerou imutáveis, ruíram ao longo da história, e os tempos modernos mostram que uma educação liberal é mais importante do que o atrelamento a sistemas sociais que a própria história vem atropelando.

Em recente entrevista a propósito do centenário do Anchieta, no dia 13 de janeiro, dizia a Padre Martinho Lenz, atual Diretor-Geral, que o sucesso do Colégio se deve ao tipo de educação que oferece: “Trata-se de uma proposta cognitivista, em que o importante é levar o aluno a aprender a pensar”. Na verdade, o homem que aprende a pensar é um homem livre.

Talvez seja por isso, porque no Anchieta aprendemos a pensar, é que tanto nos orgulhamos de ser antigos alunos do Anchieta. Não ex-alunos, como aqueles que, na hora da saída, esquecem a escola e o que aprenderam. Mas antigos alunos, capazes de projetar em sua vida pessoal, em sua participação na comunidade, no comando de empreendimentos ou na vida pública, o discernimento proporcionado pela formidável carga humanística que aprendemos no Colégio Anchieta, uma carga formidável que nos torna mais leves, mais humanos e mais felizes.

Ao Anchieta, a sua Direção, professores, funcionários, o nosso reconhecimento e as nossas homenagens. Muito Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador)

 

O SR. PRESIDENTE: Ouviremos a apresentação do Grupo “Canto e Dança”.

 

O SR. DERTÍLIO: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Casa; Srs. Vereadores; autoridades; Senhores e Senhoras, pedimos vênia para dizer que o “Show Musical Anchieta Canto e Dança” é um conjunto artístico fundado em 1976, como uma das atividades extra-curriculares do Colégio Anchieta. Tem atualmente a Direção-Geral do Padre Egídio, Direção Artística e Coreográfica a cargo da profª Nilva Pinto, Direção Musical e Vocal temos o maestro Dertílio. Esse grupo artístico quer expressar a sua alegria e o seu contentamento em poder contribuir com um pouco de sua arte para abrilhantar esse ato histórico, ocasião em que a egrégia Câmara de Vereadores de Porto Alegre, homenageia o Colégio Anchieta pelo transcurso de seus 100 anos de existência. Educandário este que tem formado várias gerações de homem ilustres que dirigiram e dirigem o destino de nossa Cidade, do nosso Estado e do nosso País. A estampa que agora será apresentada nos diz que a França é Paris, Cidade Luz, as margens do Sena. As imagens vão surgindo quando a palavra França é mencionada, os quadros que apresentaremos revelam textos dos mais habilidosos pintores, as mais sofisticadas damas, as floriças de café, as dançarinas de Can-Can, enfim, todo o povo parisiense, abrangendo o passado e o presente, e portanto, tudo o que a França é.

 

(O grupo se apresenta.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Padre Matias Martinho Lenz, que agradecerá pela manifestação da Câmara Municipal de Porto Alegre.

 

O SR. MATIAS MARTINHO LENZ: Exmo Sr. Presidente, Ver. Valdir Fraga; Senhor Giovani Gregol, nosso ex-aluno e proponente dessa Sessão Solene; Senhores Líderes de Bancada; Senhores Vereadores, em particular nossos ex-alunos, Leão de Medeiros e Vieira da Cunha; digníssimas autoridades; amigos da comunidade Anchietana, pais, alunos, professores, funcionários e antigos alunos; senhoras e senhores.

Desejo em primeiro lugar externar meu profundo agradecimento à Câmara de Vereadores da nossa Cidade, na pessoa de seu Presidente, Ver. Valdir Fraga e do Ver. Giovani Gregol, proponente dessa Sessão Solene, pela homenagem que acabam de prestar pelos transcurso do centenário de fundação do Colégio Anchieta. Aceitamos essa homenagem como um reconhecimento que a cidade de Porto Alegre, através de seus legítimos representantes, presta ao trabalho de educação de gerações de jovens realizado nestes cem anos por plêiades de mestres e educadores, jesuítas e leigos, inspirados no ideal de Inácio de Loyola, de em tudo amar e servir a Deus e a seu próximo, na busca constante de uma excelência humana e cristã na educação da juventude.

Agradecemos a Deus a oportunidade que Ele deu à Companhia de Jesus de colaborar com o engrandecimento cultural e religioso desta Cidade e deste Estado. Entretanto, esse serviço só foi possível graças à colaboração de milhares de pessoas e do apoio de numerosas instituições e do Poder Público desta Capital. Encontrei uma expressão simbólica desta colaboração e ação educativa desenvolvida pelo Colégio Anchieta em um painel, um mosaico, que se encontra na parede da portaria do Colégio Anchieta, uma casa que também abriga a sede da Associação de Pais e Mestres (APM). O mosaico, obra do artista Lorenz Heilmair, é constituído de 90 mil fragmentos de vidro coloridos, com a representação de três figuras: a de Padre José de Anchieta, patrono do Colégio, educador e apóstolo do Brasil; a de um indígena, junto ao qual Anchieta e tantos outros jesuítas desenvolveram uma ação cultural e evangelizadora; e de um jovem estudante, que sobraça um livro e uma bola, símbolo dos milhares de jovens estudantes anchietanos, aos quais se dirige a atenção e o desvelo dos mestres e educadores do Colégio.

José de Anchieta, missionário, fundador e mestre do Colégio que deu origem à cidade de São Paulo, criador do teatro do Brasil, cujo décimo aniversário de beatificação transcorre esse ano, encabeça a longa lista de mestres jesuítas que desde 1549 exercem uma profunda influência na história da educação do Brasil. Esses mestres e defensores dos índios foram, junto com o povo guarani, os protagonistas da saga missioneira, uma utopia libertária que se transformou em tragédia na Guerra Guaraanítica, arrasando com os Sete Povos da Missões. Foi com profundo sentido de história que o construtor do Novo Anchieta, Padre Henrique Pauquet, SJ., mandou trazer uma pedra das ruínas de cada uma das sete Reduções no nosso Estado para colocá-las nos alicerces do Colégio, que estava sendo erguido.

Depois do intervalo da expulsão por Pombal voltam os jesuítas, não sem oposição, desenvolvendo no Rio Grande do Sul, desde 1842, uma profícua atividade, primeiro junto à colônia alemã do nosso Estado e em seguida, a favor de toda a população. O trabalho dos jesuítas no campo da educação tem uma longa história no Rio Grande: desde a fundação de escolas paroquiais no interior do Estado à criação de colégios, ainda no século passado, como no colégio Gonzaga, em Pelotas e o Conceição em São Leopoldo, origem da atual Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, culminando com a criação em nossa capital, do Colégio dos Padres, o nosso Colégio Anchieta, a 13 de janeiro de 1890. Os inícios desta escola foram humildes: 40 Alunos e três mestres, numa pequena sala na rua da Igreja, hoje Duque de Caxias. Mal poderiam esses pioneiros imaginar que um século após, a escola seria transferida e contaria com 3.300 alunos, 198 professores e quase 100 funcionários.

A escola cresceu, apesar da escassez de meios materiais e das marchas e contramarchas das reformas de ensino. Sempre com ajuda generosa do povo, de outros religiosos e a presença do Governo. Em 1903, o Colégio, então já chamado de Anchieta, recebeu a valiosa ajuda dos Irmãos Maristas, que se encarregaram de todas as aulas do primário, permanecendo no Anchieta até 1928. De 1963 até 1979 trabalharam conosco as Irmãs Bernardinas, tendo aos seus cuidados o Jardim e as 4as séries iniciais do 1º Grau.

No que diz respeito à oficialidade dos estudos do Colégio, o caminho foi longo e cheio de sobressaltos, intervindo nesse processo, em certa altura, a Prefeitura e a Câmara de Vereadores de nossa Cidade. O Anchieta, que em 1903, fora equiparado ao Ginásio Nacional como externato do Ginásio Nossa Senhora da Conceição em São Leopoldo, passou em 1908 a ser equiparado ao Ginásio Nacional, como estabelecimento independente. Mas não durou muito essa equiparação, que foi surpresa em conseqüência da reforma Rivadávia, em 1911. Obrigado a submeter os seus alunos aos exames parcelados diante de bancas examinadoras externas ou ter que matricular seus alunos em escola pública para fins de validação dos estudos, o Anchieta batalhou para obter sua autonomia. Nessa luta, o Município veio ao encontro da escola. Através do Decreto nº 23, de 20 de março de 1926, com base em medidas votadas pelo Conselho Municipal, o então Intendente Dr. Otávio Francisco da Rocha, transformou o Anchieta em Ginásio Municipal de Porto Alegre, obrigando-se o Colégio a adotar o programa do colégio Dom Pedro II e a aceitar a fiscalização municipal do seu ensino. Também essa situação durou pouco, pois em 1928 sobreveio primeiro a estadualização do Colégio pelo decreto nº 4.083, de 30 de junho de 1928, do Governador do Estado Dr. Getúlio Vargas e nesse mesmo ano nova equiparação ao colégio Dom Pedro II. Só em 1943, com o enquadramento na reforma Capanema, o Colégio veio a conquistar sua autonomia.

Foi sobretudo no tempo da construção do novo Colégio Anchieta na Av. Nilo Peçanha, n° 1.521, no bairro Três Figueiras entre os anos de 1954 e 1967, que se mostrou a tenacidade dos jesuítas, sobretudo do Padre Henrique Pauquet, alma de todo o empreendimento e dos Irmãos coadjutores - encarregados da obra -, dos engenheiros e arquitetos, de centenas de operários. Sentimos também a amizade e generosidade de ex-alunos, colaboradores “legionários”, e do povo de Porto Alegre e do interior do Estado. Recebemos a demonstração viva da gratidão do povo alemão, sem cuja ajuda o Novo Anchieta jamais teria alcançado o padrão de qualidade que hoje apresenta. Registra-se, a bem da verdade, que a parte principal dos recursos financeiros que viabilizaram a execução das obras do novo Colégio, consistiu em vultosas doações do Governo e do povo católico da Alemanha, através das organizações “Misereor” e “Adveniat”. Essas doações constituem-se na verdade, em uma retribuição do primeiro mundo ao nosso, o terceiro mundo; no caso especial foram também uma retribuição pela ajuda prestada pelo Rio Grande do Sul à Europa em ruínas no pós-guerra. Encontravam-se à frente da campanha de socorro à Europa Faminta (SEF) o Padre Henrique Pauquet e Sr. Willy Siegmann. Sob a liderança de ambos foram arrecadados e remetidos à Alemanha entre 1946 e 1949, 4.200 toneladas de alimentos e roupas.

A grandeza do Anchieta se fez e continua fazendo por todos os que nele trabalharam e trabalham na magnífica tarefa de educar as jovens gerações para a vida. São vidas de mestres e funcionários dedicados ao magistério, ao ensino competente de suas disciplinas e à tarefa de orientar e aconselhar ou então a de executar as múltiplas atividades, serviços de manutenção e limpeza, etc. Em tudo isso há um toque de grandeza para quem faz de sua profissão uma missão de servir o próximo e constituir o futuro dessa nação através da formação de novos cidadãos, conscientes dos seus direitos e deveres.

O Colégio Anchieta sente-se intimamente vinculado à historia e a vida da nossa Cidade, a qual queremos dar nossa contribuição específica. Junto com outras escolas confessionais e na qualidade de instituição sem fins lucrativos, oferecemos nossa contribuição para a educação e à cultura do nosso povo. Queremos constituir-nos numa alternativa educacional, pela qual optam os que desejam adotar a nossa proposta filosófica e pedagógica. Lamentamos que essa opção esteja limitada às famílias que podem pagar uma segunda vez pela educação de seus filhos, depois de pagarem os impostos que mantêm a escola pública para todos.

Em outras nações, - e estamos presentes em 86 países, com mais de 1.000 escolas secundárias -, países que não aceitam o monopólio da iniciativa de ensino público e gratuito pelo Estado, os alunos pobres têm garantido pelo Estado o direito de estudarem gratuitamente em nossas escolas, bastando que a escola cumpra com as exigências de qualidade e de administração competente dos recursos dos quais presta contas. Ironicamente, além de hoje nada recebemos do Estado pelo serviço público que prestamos, somos constantemente interferidos e limitados no exercício da liberdade de ensinar, assegurada pela Constituição (art. 206, § VI).

Temos uma proposta educacional que procuramos aperfeiçoar constantemente e colocamos à disposição de quem queira conhecê-la. É uma versão nova da antiga tradição pedagógica dos jesuítas, consagrada na Ratio Studiorum, atualizada pelas aquisições das ciências pedagógicas e marcada pelo engajamento da Igreja na América Latina a favor da transformação social, por uma sociedade mais justa. Nossa meta é formar homens de serviço, homens para os demais, homens novos, abertos a Deus ao seu tempo e ao futuro, corajosos e equilibrados, para usar a terminologia do antigo Geral dos Jesuítas, Padre Pedro Arruda, SJ. Buscamos superar as diversas formas de discriminação, razão porque de colégio apenas masculino nos transformamos, nos anos 1960 em colégio misto. Inseridos na história, colocamos ênfase na referência à fé que promove a justiça e a fraternidade, um dos traços das “características da educação da Companhia de Jesus”, num documento aprovado e promulgado em 1986 para todas as escolas jesuítas do mundo, pelo Padre-Geral Peter-Hans Kolvenbach.

Propomo-nos a oferecer um ensino de qualidade e perseguir a excelência acadêmica, no contexto mais amplo da excelência humana. Buscando uma educação para valores cristãos, queremos levar o aluno a formar a sua consciência social e a usar responsavelmente a sua liberdade.

Um pai anchietano, criador do nosso logotipo, expressou essa dimensão de nossa proposta nos dizeres: “100 anos educando para a liberdade”. Liberdade com competência e responsabilidade social, traduzindo assim nossa educação libertadora e evangelizadora.

Ao Longo de sua história o Anchieta entregou à sociedade o que de melhor era capaz de fazer, alunos formados no espírito de serviço e iniciados em uma visão cristã de vida. Na formação das lideranças profissionais cristãs, o Colégio se vale não só do trabalho geral com todos os alunos, mas dá atenção especial aos que se destacam por suas qualidades e seu interesse. Instrumentos dessa formação especial foram, no passado, as Congregações Marianas, - hoje traduzidas nas comunidades de Vida Cristã (CVX) -, que tiveram no Padre Jorge Sedelmayer e no Padre Werner von und zur Mühlen, grandes inspiradores e orientadores, dirigentes que foram da Congregação Mariana Nossa Senhora da Glória - para os alunos. Para acompanhar os antigos alunos, ingressos nas Universidades, fundou-se a Congregação Mariana “Mater Salvatoris”, de acadêmicos, e mais tarde, a dos formados. A essas Congregações Marianas pertenceram figuras de proa como o Profº Armando Câmara, Rui Cirne Lima, Luiz Leseigneur de Faria, Raul Moreira e Ari de Abreu Lima, para não mencionar as gerações mais novas, figuras que marcaram profundamente a vida intelectual e universitária de Porto Alegre. Das fileiras dos ex-anchietanos saíram também líderes sociais e políticos, homens de empresa e profissionais destacados em diversos campos do saber e da cultura.

O Colégio Anchieta também marcou presença na história de nossa Cidade, buscando pôr em prática seu antigo lema: Fides, Scientia, Patria - “Fé, Ciência, Pátria”. Para a promoção das classes mais humildes, o Colégio manteve, de 1912 a 1984, uma escola noturna gratuita chamada no Novo Anchieta, de Escola Assistencial. Por ocasião de calamidades, a escola esteve aberta para prestar socorro aos necessitados, como no caso da enchente de 1941. Diante da extensão do sofrimento do povo, o Colégio interrompeu suas aulas, e durante um mês, se transforma em abrigo para mais de 800 flagelados. Esses recebiam casa, comida, colchões, cobertores, roupas e remédios, com professores e alunos colaborando num grande mutirão de solidariedade. Mudados os tempos, buscam-se outras formas de solidariedade, talvez menos intensas que as vividas no passado. Nossos recursos pedagógicos, como é o caso do Museu Anchieta, está aberto à visitação e estudo das crianças de escolas públicas. O Show Musical Anchieta - Canto e Dança, do qual todos tiveram hoje uma pequena demonstração, a par de constituir-se uma iniciação artística para muito jovens, leva a alegria e a beleza do seu canto, de suas músicas, seus ritmos e de sua coreografia para os mais diversos lugares e meios, aceitando tão somente apresentar-se para fins culturais e beneficentes. Temos muito a caminhar ainda, ao encontro do próximo, sobretudo ao encontro do mundo dos pobres, dos carentes e marginalizados de uma boa educação.

O mosaico da vida e cores que é a comunidade do Anchieta, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, muito devemos a esta Cidade e à generosidade do seu povo. De todos nos sentimos devedores de gratidão! A consciência dessa dívida nos impulsiona a prosseguir, rumo a um novo centenário, na busca da realização sempre mais coerente de nossos ideais de educação evangelizadora e libertadora. Que Deus nos ajude e fortaleça nesse propósito! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador)

 

O SR. PRESIDENTE: Para encerrar esta festa maravilhosa, concedemos a oportunidade ao Coral do Colégio, para que cante o seu “Canto da Despedida”. Nossos agradecimentos. Parabéns aos alunos e professores. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h50min.)

 

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